Artigos XXL: Cultura Europeia: Germânia de Tácito
Cultura Europeia: Germânia de Tácito
O processo de configuração da cultura europeia é uma adaptação/recriação da raiz greco-latina e judaico-cristã.
Germânia
A grande obra tacitiana acerca dos usos e costumes dos antigos germânicos foi elaborada ao tempo de Trajano, em plena guerra.
Tácito quis comparar os costumes corrompidos dos romanos com os primitivos e rudes, mas sadios, dos antigos povos germânicos.
Tácito tem dois objetivos: por um lado, alertar as autoridades romanas sobre o perigo germânico, para que assim tomassem medidas práticas; por outro, mostrar a tibieza dos costumes em Roma, oferecendo como contraponto os costumes germânicos, mais robustos. Descreve os bárbaros elogiando-os, ao mostrar a excelência masculina dos germanos. Afirma que os germanos têm cornos menores que os romanos. Usa os bárbaros para criticar os seus contemporâneos romanos, realçando a pureza dos germanos em contraposição a corrupção dos romanos.
O que chama a atenção na referida obra não é somente a quantidade abundante de informações sobre as tribos germânicas, mas também o modo como ele escrevia, revelando certa admiração pelo seu objeto de estudo. Sua visão sobre esses “bárbaros” contrastava com a ideologia romana. Segundo Paul Veyne, arqueólogo e historiador francês, a noção de barbárie significava selvageria e incultura, em oposição à humanitas, que designava o grupo dos homens que eram instruídos e que tinham conceitos avançados de justiça.
Os romanos consideravam bárbaros aqueles que não eram seus compatriotas, com exceção dos gregos, de quem eram culturalmente tributários. Apesar de seu etnocentrismo, os romanos reconheciam que havia civilizações igualmente grandiosas, mas que estavam tão longe que não poderiam oferecer qualquer perigo. Roma era o “centro do mundo”, mas não de todo o mundo conhecido; Roma era o centro do mundo mediterrânico e de suas proximidades, onde reinava soberana sobre as nações “bárbaras”.
As instituições germânicas diferiam muito das romanas. No caso romano, o exercício do poder estava nas mãos de uma oligarquia, enquanto entre os germanos era necessário que o rei ou o chefe provasse o seu valor guerreiro para merecer seu cargo. Os reis e os chefes exerciam um poder moderado e a sua autoridade era legitimada pela sua valentia. A eles não era permitido o exercício da justiça, reservado aos sacerdotes, que cumpriam a vontade dos deuses. Os germanos desconheciam o Estado e a cidade. Sua vida social estava centrada na comunidade, na tribo, no clã, enfim, na família; aí o indivíduo encontrava a sua razão de ser. A assembleia ocupava lugar importante na sociedade germânica. Lá, eram decididos os assuntos concernentes à paz e à guerra, além de ser ocasião para eleger o chefe e decidir sobre os castigos aplicados aos faltosos. Tácito fez questão de ressaltar que na sociedade germânica havia uma participação mais ampla nas decisões políticas: todo homem livre, armado e bom guerreiro tinha assento na assembleia.
Tácito mostra aos romanos o quanto a vida do germano era simples, sem luxo e dedicada às atividades bélicas, diferentemente da dos romanos, agora já acomodados com a pax augusta. Talvez Tácito quisesse fazer lembrar aos romanos que, no passado, eles já foram como os germanos. Para Tácito, mais valia a força dos bons costumes que a força das leis: enfatiza a moral germânica, fazendo um alerta a seus leitores sobre o atual estado de coisas no mundo romano, em contraste com a “barbárie virtuosa”.
Quantas estrelas este conteúdo merece?
Avaliar:
Avaliação atual: Média: [0]Total de votos: [0]
Informações extras
Clicks: 2169 | Última atualização: 17/05/2016 às 12:53